Homenagem ao professor Iberê Carolino.
Rogério Duarte Fernandes dos Passos
Professor da Escola Técnica Estadual Conselheiro Antonio Prado (ETECAP), em Campinas-SP
“Uma pessoa sem sonhos não tem perspectiva de vida”
Iberê Carolino.
“Uma pessoa sem sonhos não tem perspectiva de vida”
Iberê Carolino.
1. Professor Iberê Carolino[1].
Na madrugada do dia 22 de abril de 2010, faleceu na cidade de Americana, Estado de São Paulo, o professor Iberê Carolino.
Nascido em 11 de maio de 1954, o professor Iberê era licenciado em Física na turma de 1974-1978 do Campus de Rio Claro – de onde era natural – da Universidade Estadual Paulista (UNESP), que, à época, contou com os formandos Aparecida Bergamim Girardi, Gisele Rando Carolino – que se tornou sua esposa –, Inês Aparecida Nascimento, Jacira Eutrópia Martins de Oliveira, Jorge Wilian Missono, Maria Ângela Orpinelli, Maria de Lourdes Gonçalves Loureiro de Souza, Mirian Sueli Raiss, Regina Célia Varussa Padovan, Rita Elaine Franciscato Corte, Sirlei Gomes Grosso e Vanda Maria Santin.
No Centro de Energia Nuclear da Agricultura (CENA), órgão integrado à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (ESALQ), no Campus de Piracicaba da Universidade de São Paulo (USP), em 1979 ele concluiu iniciação científica intitulada “Efeito de gases inertes na esterilização de insetos pragas”, sob orientação do professor Júlio Marcos Melges Walder. No próprio currículo Lattes do professor Dr. Walder, vê-se a apresentação de trabalho de autoria de ambos sob o título “Efeito de gases inertes (O2, CO2, N2 e ar) durante a irradiação de pupas de Certitis capitata (Wied., 1824) (Dip.; Tephritidae)”, contido no Suplemento de Ciência e Cultura – e também nos Anais (p. 18) – do Congresso da 35ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em Belém-PA de 06 a 13 de julho de 1983.
2. Algumas lembranças.
Bastante ativo na defesa dos direitos dos professores, são marcantes as nossas conversas com o professor Iberê Carolino nas reuniões pedagógicas das manhãs de sábado da Escola Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado (ETECAP), em Campinas, onde ele nos recordava passagens de sua juventude em Rio Claro e Americana, bem como as lembranças do período autoritário brasileiro (1964-1985), regadas à audição do grupo chileno de música folclórica e popular latino-americana Quilapayún – em suas duas frações, Francia e Carrasco –. Algumas dessas conversas seguiam até as 13:40 h, quando, já no estacionamento da ETECAP, ele nos relatava com grandes cores a sua docência na Escola Estadual Dr. Heitor Penteado, na Rua dos Professores – nº 40, em Americana, bem como as dificuldades de implantação de um pioneiro projeto de informatização das escolas públicas da cidade que teve a sua coordenação na década de 1980.
Iberê Carolino sempre se mostrou uma pessoa muito preocupada com as demais, colocando-se em último lugar para em primeiro atendê-las. Além de nunca negligenciar a sua atuação profissional (lembre-se de seus permanentes estudos), a sua vida se baseava na Física – disciplina que lecionava –, no que sempre trabalhava para o convencimento dos alunos acerca da importância dela no cotidiano, corroborando direta e indiretamente a sua sólida formação intelectual, integrada a conhecimentos atinentes a diversas outras áreas do saber.
Observe-se que na ESALQ, o professor Iberê cursou o programa de pós-graduação, sem, no entanto, ter tido a oportunidade de apresentar a sua tese, visto o nascimento de sua filha e a perda de uma bolsa de pesquisa. No entanto, prosseguindo com a sua missão de educador, nunca demonstrou arrependimento, mantendo o entusiasmo profissional e reiterando o incondicional amor à esposa, aos filhos, e, claro, aos alunos, carinhosamente por ele chamados de “fiotinhos”.
Aqueles que se dedicam ao magistério muito bem sabem que este não é um caminho feito apenas de flores e louros. Com Carolino não foi diferente, de maneira que se entristecia diante de um aluno sem sonhos. Porém, sendo persistente em sua luta, para esse estado de coisas, ele tinha um adágio: “Uma pessoa sem sonhos não tem perspectiva de vida”. E veja-se: não se tratava apenas de retórica, pois, seja na E. E. Dr. Heitor Penteado, seja na ETECAP, o nosso professor não media esforços para ajudar as Instituições e as pessoas, seja providenciando e agilizando algo útil ou importante para as escolas, seja para a obtenção de materiais diversos, ou ainda, pessoalmente, realizando consertos de computador, instalações elétricas, trocas de lâmpadas, e, até mesmo, fazendo perigosas subidas ao telhado (não para o Iberê!)... Enfim, sempre se preocupando e disponibilizando para enfrentar as necessidades, corroborando seu alto espírito público e solidário. Certamente, nessa atmosfera de realizações, solidariedade e alegria, é que ele será lembrado.
Esse caráter prestativo e gentil na convivência com os colegas de trabalho e posto à prova na realização de quaisquer tarefas, inclusive, são parte integrante da memória – dentre muitos outros – dos professores Marcos Antonio Torres Cezário, Tereza Cristina Duarte e Aparecida Bergamin Girardi – atual diretora da Escola Técnica Estadual de Hortolândia.
A memória de Iberê nos remete às milhares de sementes deixadas nos corações de cada um daqueles que o conheceram. Cabe, portanto, a nós, o seu cultivo. E será assim que ele se manterá vivo.
No dia seguinte ao seu falecimento, a secretaria da ETECAP enviou correio eletrônico aos seus colegas de trabalho com uma fotografia relatando um pouco de sua alegria e de seu universo: via-se, em três planos da mesma imagem, por primeiro, o ambiente familiar, onde havia uma celebração; em seguida, era possível vê-lo descontraído com uma publicação nas mãos em que na capa tinha-se Albert Einstein; e, por fim, especialmente pelo fundo da imagem, ele era visto possivelmente em um ambiente de trabalho e pesquisa. Imagens sublinhadas ao fundo pela frase: “Não corra atrás das borboletas; plante uma flor em seu jardim e todas elas virão até você”.
No velório do Cemitério da Saudade, em Americana, as manifestações de reverência, apreço e carinho à sua pessoa e família demonstraram o “tamanho” do professor Iberê, no que reiteramos que tanto na ETECAP quanto na E. E. Dr. Heitor Penteado, ele era muito querido, tanto por professores e funcionários, quanto por alunos, onde para estes se tornou uma “lenda”, especialmente pelas suas estratégias inovadoras e motivadoras para o aprendizado.
Representante de uma grande geração de professores rioclarenses que tivemos a oportunidade de conhecer – como Oswaldo Akamine Júnior, José Eduardo de Oliveira (o “Dudu”), Gustavo Escher Dias Canavezzi e Aparecida Bergamim Girardi –, o professor Iberê Carolino deixou a esposa Gisele Rando Carolino e um casal de filhos – Iaponira e Cahuê Rando Carolino –, permanecendo como exemplo de cidadão, professor e amigo.
É possível falar e escrever muito sobre o Iberê, que acreditava – especialmente pelas suas idéias, muitas vezes diferentes – não pertencer a este mundo. Mas tudo será pouco para mensurar o privilégio daqueles que puderam conhecê-lo e compartilhar de sua convivência.
O corpo do professor Iberê Carolino foi cremado na cidade de São Paulo, Capital, e, aos dias que se seguiram ao seu falecimento, os alunos do Grêmio Estudantil da ETECAP o homenagearam, deixando na lousa convocatória de suas reuniões e avisos o singelo escrito: “Iberê presente”.
3. Referências.
ESCOLA Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado (2010). Corpo docente. Disponível na rede mundial de computadores (Internet) no endereço eletrônico
PASSOS, Rogério Duarte Fernandes dos (2008). A história da Escola Técnica Estadual de Hortolândia (ETEC Hortolândia): uma relevante página na vida do município e de sua educação. In: ETEC Hortolândia. Disponível na rede mundial de computadores (Internet) no endereço eletrônico . Acesso em 30-05-2010.
PLATAFORMA Lattes (2010). Julio Marcos Melges Walder. Disponível na rede mundial de computadores no endereço eletrônico . Acesso em 30-05-2010.
[1]Agradecimentos às professoras Kátia de Almeida, Aparecida Bergamim Girardi, Tereza Cristina Duarte, e, sobretudo, Gisele Rando Carolino, pelos subsídios na elaboração do texto.
